Não sei direito como começar. Falar sobre o nosso dia-a-dia seria chato demais. E falar sobre a união da turma seria, de certa forma, hipocrisia. É claro, não podemos negar que mesmo que não fôssemos unidos, passamos o último ano da primeira fase de nossas vidas juntos e portanto, temos uma ligação. É difícil falar da nossa turma como um conjunto, até porque passamos grande parte do tempo fragmentados. Durante todo o tempo, tentou-se fazer com que compartilhássemos opiniões e chegássemos a uma ideia final juntos. Mesmo sabendo, que todos têm o direito de pensar de formas diferentes e por isso, foi tão difícil chegarmos a um acordo. As meninas mesmo, quantas vezes tentaram fazer com que juntos tomássemos as decisões para que não tivessem pessoas desagradadas com a decisão final. Mas na nossa turma, quase tudo se transformava em uma tarefa impossível de ser realizada.
Apesar disso, com certeza, cada um de nós tem momentos marcantes guardados para si, afinal rimos com as piadas, com as brincadeiras dos meninos, nos apoiamos quando foi necessário, até porque na hora do desespero todos viram amigos. E foi isso que aconteceu, nos ajudamos e passamos tanto os momentos bons, como os ruins juntos. Podemos até ter começado mal, cada um no seu canto, com um muro dividindo a turma, mas tenho certeza que ao final desse ano, conseguimos nos aproximar e ter uma turma mais unida, mesmo que ainda não totalmente. Acho que com o passar do tempo, com os dias juntos, as dificuldades e as alegrias compartilhadas fizeram com que as diferenças se tornassem pequenas demais e com isso redefinimos nosso olhar diante do outro.
É difícil de acreditar, mas o ano que imaginávamos que passaria lento e dolorosamente passou tão rápido e já estamos aqui, hoje, no dia da colação. Passamos tanto tempo querendo que as provas e toda aquela rotina acabassem e esquecemos que junto a ela, as pessoas que estavam sempre presentes, não farão mais parte do nosso dia-a-dia. Desejamos esse fim todos os dias, pensando no que viria a partir daqui, e como a mudança seria uma forma de renovar a rotina de todos esses anos, afinal de agora em diante teremos novos desafios, e uma estrada a ser construída e percorrida. Porém, agora que chegamos ao fim dessa etapa, nos deparamos com a realidade, novas pessoas irão entrar em nossas vidas, e isso é ótimo, mas há também aqueles que irão sair, e hoje ou amanhã só farão parte de nossas lembranças. Mas enfim, isso faz parte do futuro, e não tem ninguém aqui capaz de prevê-lo, até porque sabemos que verdadeiras amizades enfrentam o tempo e tudo o que houver, permanecendo vivas em nossos corações.
Muitos estão aqui nesse colégio há mais de uma década, construíram o que são e como vêem o mundo, além de terem aprendido a respeitar o outro e a formar com ele laços. Por isso, vemos hoje aqui amizades que se formaram no Jardim de Infância ou outras que foram construídas ao longo dos anos. O fato é que, para a maioria de nós, esse colégio não faz parte apenas do 3º ano, mas é o lugar onde passamos grande parte de nossas vidas e por isso, temos um forte vínculo com ele. E para aqueles que foram entrando depois não é diferente, porque querendo ou não já fazemos parte desse colégio e da história dele.
Hoje celebramos o fim da primeira etapa das muitas que ainda iremos passar. Sabemos que tudo o que vivemos esse ano, ou ao longo de todos esses anos, faz parte de nossa história e das nossas lembranças, e por isso, daqui a alguns anos, quando olharmos para a foto de turma, lembraremos, mesmo que vagamente, daquilo que vivemos juntos e daqueles que não importa o motivo estiveram sempre ao nosso lado. Talvez alguns, não estarão em nossas memórias, mas eles, sem dúvidas, fazem parte da nossa história também.
Gostaria de terminar com um texto de Cora Coralina, que para alguns não fará sentido nenhum, mas para mim se encaixa perfeitamente na mensagem que eu queria passar: aproveitar o tempo e os momentos que passamos com aqueles que nós amamos, para que tudo o que vivemos permaneça sempre vivo em nós e naqueles com quem compartilhamos esses momentos.
Saber Viver
“Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais para nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes, basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura...
Enquanto durar.”