terça-feira, 6 de abril de 2010
Até que a última gota caia e a última lágrima seque
Deitada aqui, na minha cama quentinha, ouvindo apenas o barulho da chuva, o vento na fresta da janela, que chegava em minha pele, causando um arrepio, que era cessado pelo cobertor que me aquecia. Via um filme para passar o tempo e depois assistia à tv. No Jornal Nacional centenas de mortes eram noticiadas, assim como outras tragédias, que por mais que não tenham levado a morte, feriram gravemente uma parte da população, e essa ferida pode até não ter sido física, mas foi também moral. Pessoas sendo obrigadas a atravessar as ruas com água até o pescoço. Outras tantas vendo suas coisas sendo levadas ou suas casas sendo derrubadas pela água, aquela que deveria ser fonte de vida. Gente desesperada em meio ao caos que a cidade vivia e enquanto isso, eu e muitas outras pessoas acolhidas nas suas residencias, ouvindo as noticias, que não as atingiam e as outras vivenciando cada momento de dor, que essa chuva pôde lhes proporcionar. É estranho ver que em momento algum fomos atingidos, enquanto tantas outras foram o alvo. Nesses momentos é que vemos o quanto somos "felizardos", não é mesmo? Mas e as outras pessoas, por acaso são menos dignas do que nós e por isso merecem tanto sofrimento? É, são nessas horas que nós ficamos cara a cara com a desigualdade que banha nosso país, e é por causa dessa desigualdade, que chuvas como a de hoje causam tantos estragos para uma parte da população, enquanto outra, seleta, não vivencia nenhuma parte dessa tragédia e são afetadas apenas pelo fato de não saírem de casa, mas essa está ali lhe protegendo, até que a última gota caia em seu telhado.
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