quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Baú de lembranças

O vento no rosto, lhe trazia recordações... Recordações de um tempo não tão distante, afinal não carregava tantos anos em sua bagagem. Era uma menina sonhadora e mesmo assim mantinha seus pés no chão. Muitas vezes seus sonhos eram tão intensos, que a faziam tirar os pés do chão e faziam com que ela voasse para lugares muito distantes, onde ela imaginava encontrar seu pai. Já faziam dois anos que não o via e mesmo assim ainda sonhava com o dia em que o encontraria e o abraçaria com a maior força que pudesse.
Morava com a mãe e a avó, mas sempre foi tão apegada ao pai, que por mais que sua mãe lhe doasse todo seu carinho e amor materno, ela insistia em perguntar por ele todos os dias. Sua mãe apenas dizia que ele tinha viajado para um lugar muito distante e por isso elas não poderiam encontrá-lo. A menina continuava a sonhar todas as noites com o pai, o encontrava no mesmo lugar e a única coisa que fazia era abraçá-lo. Os dias iam passando e sua angústia aumentando... A única lembrança que tinha do pai, era de sua risada escandalosa e seus braços fortes que a carregavam para todos os cantos. Seus braços traziam tanta tranquilidade à ela, que ela daria tudo para que pudesse ser carregada novamente por eles. Mas esse dia parecia nunca chegar e a menina já não aguentava mais tanta espera. Seus sorrisos começaram a se transformar em lágrimas, já não tinha vontade de brincar, nem de comer. Começaram a crescer sentimentos muito ruins em seu coração, que a faziam pensar se valia mesmo a pena viver sem aquele que sempre devotara o maior dos amores. Sua mãe que já estava preocupada com o rumo que suas vidas estavam levando, começou a pensar em alguma forma de contar à menina a verdade. Foi quando em um dia, durante a tarde, em que elas assistiam à televisão, que a mãe resolveu desabafar:
- Minha filha, tenho uma coisa para lhe contar, que já deveria ter sido dita há muito tempo.
A menina assustado assentiu para que a mãe continuasse...
- Seu pai está num lugar muito distante e nós nunca mais poderemos encontrá-lo, pois há dois anos atrás ele foi para o céu. Está vivendo com o anjinhos, meu bem!
Foi quando lágrimas começaram a escorrer e de onde elas vinham, ainda haviam muitas outras... A menina chorou durante longas horas e parecia que aquelas lágrimas não secariam nunca mais. Mas com o passar dos dias, elas já não vinham com tanta frequência, a menina estava aprendendo a conviver com a falta que a consumia. As saudades estavam lá, sempre presentes em sua vida, mas faziam com que ela percebesse, que elas só existiam porque durante algum tempo ela viveu momentos maravilhosos com o pai. Essa saudade não significava tristeza e sim alegria, alegria de ter passado aqueles anos com aquele que considerava seu herói. Tudo que um dia ela viveu com ele, estaria para sempre guardado em um baú um pouco empoeirado, mas que ela fazia questão de limpar todos os dias, esse baú estaria para sempre em seu coração. Porque por mais que a vida tenha o tirado dela, ninguém jamais o tiraria de seu coração.

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